Suélen Thara Karpinski*
Toda criança tem o direito de ser feliz (Foto/Divulgação) |
Adotar é um gesto de amor, afinal, mãe não é aquela que faz é quem cria, quem cuida, quem dá amor. Uma pessoa que adota por querer ter uma criança fica feliz quando, muitas vezes após meses de espera, chega em casa com o “seu” bebê mas chega um momento em que essa criança cresce, daí começam a surgir as dúvidas sobre a família e várias outras. É nessa fase que muitos casais se desesperam, eles devem contar que a criança é adotada ou não? Nesse caso, os pais optaram por não contar, e segundo a mãe Carolina** essa decisão foi difícil de ser tomada, mas eles sabem que acertaram.
ComArte: Como foi o processo de adoção?
Carolina*: Eu diria dolorido (risos), eu ia todos os dias até o orfanato ver o Cassiano**, saber se ele estava sendo bem tratado, aquilo era tão frio, e ele tão pequeno, foram muitas idas e vindas para o conselho tutelar, burocracia teve vezes que eu pensei em desistir... cheguei a fazer planos para roubar o Cassiano*, (risos), mas hoje vejo que valeu a pena.
CA: De quem partiu a ideia de adotar?
Carolina: Eu sempre quis ser mãe, quando casei e descobri que não poderia ter filhos foi terrível, daí comecei a pensar nessa possibilidade, conversei com meu marido e daí em diante começamos a procurar.
CA: Depois da adoção, como foi a fase de adaptação?
Carolina: Pra mim foi tranquilo, antes de assinar em definitivo os papéis, nós ficávamos com o Cassiano* em casa, mas ele não podia dormir conosco, uma psicóloga e uma agente social nos acompanhavam em tudo, fizemos algumas avaliações e foi tudo bem.
CA: Faz quanto tempo que vocês adotaram?
Carolina: Hoje, ele tem 17 anos, quando o adotamos tinha apenas 3 meses.
CA: O Cassiano* sabe que é adotado?
Carolina: Isso sempre foi meu maior medo, contar ou não, mas decidimos não contar, quando fomos ‘escolher’ nosso filho procuramos alguém que fosse parecido com nós, para que as suspeitas não acontecessem, a psicóloga até nos aconselhou a contar, mas eu acho que estou fazendo o que meu coração manda...
CA: Porque optaram por não contar?
Carolina: Eu não saberia como sentar na frente do meu filho e dizer que ele não saiu de mim, somos extremamente parecidos... Mãe é muito mais que ter barriga por nove meses. Mas se um dia ele vier pedir porque não tem irmãos, ou porque ele tem alergia a poeira e nós não temos, talvez seja uma oportunidade, mas ele nunca se manifestou dessa forma.
CA: Alguma vez vocês já passaram por situações indelicadas por ele ser adotado?
Carolina: Sim, ele tinha uns 5 aninhos e uma cigana nos parou na rua e disse que ele era um menino de grande futuro mas não era nosso, fiquei pálida na hora, o Cassi* me olhou, mas ele era uma criança, todo inocente não entendeu, mas eu só queria sair dali, chorei muito, mas graças a Deus ele não lembra desse episódio.
CA: Como manter uma adoção em segredo?
Carolina: Complicado, meus pais sabem, e mais ninguém, bom, você agora (risos), mas conseguimos até agora, a única pergunta que tive que ser muito criativa na resposta foi quando ele me pediu porque não tinha fotos dele na barriga... eu disse que era envergonhada e que como ele nasceu no inverno, achei melhor não tirar fotos, sem noção não é mesmo? (risos).
CA: Se um dia o Cassiano quiser adotar...?
Carolina: Dou a maior força, e se ele quiser contar, apoio também, afinal nunca contei pra ele, pois tenho medo, mas se ele quiser estou de acordo.
CA: Você disse que a psicóloga orientou-os a contar, nem com esse apoio vocês não quiseram?
Carolina: Nem assim, tem vezes que penso que se eu tivesse seguido tudo que me falaram nunca tinha conseguido, segui meu coração, hoje vejo meu filho, e digo isso com orgulho, um rapaz lindo, forte e principalmente feliz... Não há recompensa melhor, não há psicóloga que me diga que em algum momento agi errado.
Uma adoção que deu certo, um amor de mãe que nasceu quando Carolina* viu Cassiano* deitadinho no berço número 18 do Lar das Crianças em Erechim, hoje ele tem 17 anos, nunca soube que era adotado, segundo a mãe, se não houver necessidade nunca vai saber. Pedi para que ela definisse todo o processo de adoção, toda a rotina com a criança já em casa, bom que resumisse a vida deles depois da chegada do Cassiano*, e me surpreendi, Carolina* disse que uma frase definia tudo... “VOCÊ É O TIJOLINHO, QUE FALTAVA NA MINHA CONSTRUÇÃO!”
Adotar é tudo de bom (Foto/Divulgação) |
**Os nomes verdadeiros foram mantidos em sigilo à pedido dos entrevistados.
*Acadêmica do VII nível de jornalismo on line.
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