sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Moda retrô e semiótica?


 *Édson Coltz

Quando se fala em moda retrô muitos devem pensar em peças do vestuário com detalhes baseados em roupas dos anos de 1960 ou 1970. Porém, vários são os estilistas que criam, ou já criaram, suas peças com claras influências em estilos bem mais antigos que isso, como Christian Lacroix, conhecido por ter se utilizado do estilo barroco em suas coleções. Mas que característica de uma vestimenta seria capaz de resistir ao tempo e tornar-se influência? 

(Foto: Arquivo pessoal/Jacqueline Ahlert)

Para ter essa e outras indagações respondidas apelamos para a semiótica. Professora da disciplina de Semiótica, do curso de Jornalismo, na Universidade de Passo Fundo (UPF), Jacqueline Ahlert, é quem responde as questões.  Ahlert é Formada em Artes Plásticas, mestre em História pela UPF e Doutoranda em História pela PUCRS. Além disso, é pesquisadora do Núcleo de Documentação Histórica do Mestrado em História - PPGH-UPF.

ComArte - Qual o significado da moda sob o olhar da semiótica?

Jacqueline Ahlert - Há algum tempo a moda, as vestimentas e indumentárias, vêm sendo contempladas por olhares acadêmicos, como fenômenos sociais e culturais. Compreendida como objeto de investigação de diferentes áreas, como Antropologia, Psicologia, Sociologia, História, Semiótica, etc, a moda desvela, em especial, os aspectos e mecanismos compositivos de um complexo meio de comunicação.

ComArte - Ainda falando sobre semiótica, destaque a importância das cores nas peças do vestuário?

Jacqueline Ahlert - As cores compõem, junto às formas e texturas, as tramas de significados construídos pelas pessoas. Ao abrir o armário não escolhemos somente a roupa que queremos vestir, mas também, a mensagem que queremos transmitir. Neste campo de significações onde articulamos predicados, as cores são qualidades com poder de indicar estados psicológicos, códigos de pertencimento, intenções, entre outros.

ComArte - Cite exemplos de estilistas que têm, nitidamente, influências, nas suas criações, de estilos considerados retrô:

Jacqueline Ahlert - São inúmeros os estilistas que “bebem” em fontes históricas para compor suas coleções. As empresas de vestuário Christian Dior S.A. e Miu Miu, por exemplo, já expressaram a importância da influência oriental, especificamente, do império Persa e Bizantino em suas produções. Criaram formas, cores e texturas diferenciadas, explorando dourados e pedrarias em bordados luxuosos. Outro bom exemplo é Christian Lacroix, na contramão das tendências da década de 80 - minimalismo -, o estilista cultivou o estilo barroco em suas coleções. A estética do século XVII marcou as peças com cores vivas, estampados exuberantes, bordados elaborados e miscelâneas de tecidos. Já o britânico Alexander McQueen elaborou um desfile antológico inspirado nos uniformes da Rainha Elizabeth I, no estilo vitoriano e até em Napoleão e Josephine. Isso para não citar as tendências recentes, guiadas pelo que era moda do século XX. A volta da calça “boca de sino” está aí para confirmar.

ComArte - Que aspectos justificariam o interesse dos estilistas em criarem modelos baseados em detalhes de peças de roupas elaboradas séculos atrás?

Jacqueline Ahlert - É famosa a frase: “na natureza nada se cria, tudo se copia”. Modos de vestir, indumentárias e estilos carregam alguns conceitos históricos e socioculturais invariáveis, ainda que em determinados momentos façam-se mais ou menos presentes no imaginário das pessoas. A capacidade de articular o efêmero e o perene é que se altera nas tendências apresentadas.

ComArte - Que detalhes visuais presentes na moda teriam o poder de resistir ao passar do tempo, gerando ainda interesse nas pessoas?

Jacqueline Ahlert- A cultura se dinamiza em um processo de estruturação do imaginário através de símbolos. Ainda que criemos novas simbologias e articulemos novas maneiras de representá-la, aspectos da moda como feminilidade, sensualidade, vitalidade, etc., expressos em tecidos, cortes, comprimentos e composições, de um modo geral, estão sempre indo e vindo. Numa busca por conceitos permeados pela delicadeza serão resgatadas as rendas, perolados, topes, temas florais... Característicos do estilo rococó. A dinâmica e a energia juvenil encontram referências freqüentes na estética psicodélicos. Em suma e de modo redundante, revivemos eternos retornos. 

*Édson Coltz é acadêmico do VII nível de Jornalismo da UPF.

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