quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Os festivais e o perfil musical hoje

*Roberto Biluczyk

A música – e por conseqüência, os festivais – vem mudando de perfil com o passar dos anos. O Rock In Rio já não é só de Rock, o nativismo vem se perdendo, os gostos estão constantemente se transformando. Sobre o panorama musical nos fala hoje Johnny Rock, músico há 12 anos e meio e professor há quatro, ensinando a seus alunos – em geral, iniciantes – violão, guitarra, bateria, baixo e teoria musical em geral. Confira a seguir a entrevista feita pela Revista ComArte com o músico:
Johnny Rock - Foto: arquivo pessoal do músico

Revista ComArte: Você já foi a algum festival de música? Quais, por exemplo?

Johnny Rock: Vários. A maioria deles eram festivais de Rock Underground, mas já estive no festival de música do SESI em duas edições e já participei do ENART uma vez.

Revista ComArte: E o que você achou desses festivais? Para ti, que é músico, somaram a tua trajetória?

Johnny Rock: Olha, com certeza somaram muito para mim, me fizeram crescer profissionalmente, e me fizeram ter um caráter melhor, pois quem está de fora analisa os músicos como aquelas pessoas que se acham e tal, e não é nada disso. A gente tem que ralar muito e a maioria do pessoal me ensinou a ser humilde, sem perder meu valor.

Revista ComArte: No Brasil, há uma grande variedade de estilos musicais e artistas. Há lugar para todos exporem seus trabalhos? Por quê?

Johnny Rock: Não, não tem lugar. Por que os estilos que antigamente eram populares, hoje perderam seu espaço para outros estilos, e pessoal acaba não apostando mais no antigo. É muito difícil um artista se apresentar, a cobrança feita é grande.

Revista ComArte: Que tipo de cobrança?

Johnny Rock: A cobrança de que você tem que tocar apenas o que as pessoas querem ouvir, por muito pouco e por muito tempo, mesmo que a música não lhe agrade, pessoalmente.

Revista ComArte: A variedade de estilos e artistas mesmo em eventos segmentados como o Rock In Rio é positiva?

Johnny Rock: A variedade de estilos e de artistas que existem hoje é espetacular, principalmente no Brasil, em que sempre damos aquele jeitinho brasileiro de misturar coisas que não tem nenhuma ligação entre si. Isso não seria ruim, se não fosse o evento chamado Rock in Rio... Para mim, foi péssima a ideia de misturar axé, rap, hip-hop, com rock. Aliás, rock é o que menos tinha lá - o rock pesado mesmo, que até é uma das nossas características, perdeu muito espaço  e corre o risco de acabar sendo apenas som de fundo.

Revista ComArte: Antigamente, havia festivais para revelação de novos artistas com sucesso. Depois, alguns programas de TV também aderiram ao método. Mas hoje, um artista ainda seria facilmente revelado pela TV ou mesmo por festivais?

Johnny Rock:  Não, hoje é muito mais difícil, dependendo do que o artista faz, ou quer fazer. Temos exemplos de "artistas do Youtube" que aparecem na TV, fazendo suas artes, e músicos e artistas excelentes que ficam no anonimato por anos, até que alguém invista uma grande quantia, para que o mesmo apareça. Em geral, o talento não importa mais, essa é a verdade, importa se seu rosto agrada o público.

Revista ComArte: Aqui no RS, temos os festivais nativistas como o Carijo, a Seara e a Califórnia que ganham cada vez menos espaço na mídia. A que se deve esse desaparecimento? Eles vêm perdendo a importância?

Johnny Rock: Para as pessoas mais novas, a música gaúcha nunca teve importância, e nós estamos vivendo um período de transição, o multiculturalismo. Isso faz com que a nossa tradição se perca nos campos de onde veio. E só pra constar, esses festivais lançaram grandes músicos, como César Oliveira e Rogério Melo e Mario Barbará, entre outros.

Revista ComArte: E esse multiculturalismo e perda de tradições, para ti, é uma via sem volta?

Johnny Rock: Não, e não é que seja ruim esse multiculturalismo, mas temos que saber dar valor para o que é nosso também, não apenas para o que vem de fora. Se tivermos esse pensamento, não vejo mal algum, mas aí que está o problema: ter esse pensamento. E não estou dizendo que é ruim valorizar o que vem de fora. E sim, não supervalorizar isso.




*Roberto Biluczyk é acadêmico do VI nível de Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo na UPF.


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