sexta-feira, 24 de junho de 2011

Onde está minha nova família?

Chantéle Fiuza Gaspar*



Muitas vezes o sonho da família perfeita, aquela de comercial de Margarina, está distante da vida de muitas crianças, que por variados motivos são destituídas de sua família de origem, algumas por não terem sido planejadas e serem rejeitadas, outras por serem vítimas de maus tratos por quem deveria zelar por seu bem estar.

E dessa forma começa a incansável busca por uma nova família que muitas vezes é um caminho longo, com muitas barreiras a serem superadas. Convidamos a Conselheira Tutelar de Passo Fundo, Jussara Aparecida Gazzola para tirar algumas de nossa duvidas sobre adoção.

ComArte: Como estas crianças chegam até vocês?
Conselheira Tutelar: Na verdade pro Conselho Tutelar chega na forma de denuncia, não especificamente uma criança para adoção. Chega uma situação de uma família, através de uma denúncia de maus tratos, ou que a criança está sendo vítima de abuso sexual, o conselho quando se depara com essa situação vai lá. A nossa assistente social, também atua, fizemos encaminhamentos a psicólogas. E no caso extremo de acolhimento, daí sim a equipe técnica do abrigo é que faz todo o estudo daquela família. Então as crianças que a gente toma conhecimento, assim que necessitam ser acolhidas é através de denuncia e daí depois, lá na frente depois que elas estão em casa de acolhimento, o estudo todo feito pela técnica é que vai da o parâmetro se vai ser restituído o poder familiar ou não daquela criança.

C.A.  Quais seriam as situações que levam uma criança a ser tirada de sua família e ir para a adoção?
C.T. Alguns casos de mãe, que na própria maternidade, na hora que vão ganhar o bebezinho, manifestam o desejo de não ficar com a criança. Nesse caso é acionado o Conselho Tutelar, que por sua vez aciona a Assistente Social do Fórum. Há outras situações como quando as crianças são acolhidas e que a família não adere a todos os encaminhamentos que o conselho faz, são crianças que os pais são usuários da “pedra de morte”, filho de pais alcoolistas. Nesta situação o conselho faz todos os encaminhamentos: para o CAPS AD, encaminha para a Assistência Social, Secretaria da habitação; e se mesmo assim, depois de vários relatórios a família não adere a esses encaminhamentos e persiste aquela situação na qual o conselho tomou conhecimento da criança, é feito um relatório por parte do conselho e da equipe técnica sugerindo ao Ministério Público a destituição do poder familiar.

C.A. Como é feito esse encaminhamento da criança para a adoção?
C.T. Quem atua nesse caso é a equipe técnica das casas de acolhimento de município de Passo Fundo. Cada casa de acolhimento possui a sua equipe técnica de Assistência Social e sua equipe de Psicólogas. Então elas fazem todo o estudo com a família e depois é feito um relatório. Também é comunicado o conselho que trabalha junto com essa equipe, cada conselheiro é responsável pela aquela criança ou adolescente, onde fazem de forma conjunta o relatório e é mandado para o juizado e Ministério Público (link com http://www.mp.rs.gov.br/).

C.A Quanto tempo leva em média o processo de adoção?
C.T. Quando se trata de um recém-nascido, quando a mãe abre mão daquele filho, ao receber alta do hospital ela se dirige ao Fórum e lá na mesma hora o juiz ouve ela, faz um termo onde ela esta abrindo mão daquele filho, então ali aquela criança é encaminhada para uma casa de acolhimento. Para as crianças maiores, já com 2, 3, 4 anos, o processo às vezes demora um pouco quando alguém da família manifesta o desejo de entrar com a guarda, então daí tranca todo aquele processo que esta sendo iniciado pra colocação em uma família substituta, por que é priorizado o desejo de alguém da família ficar com a criança. Por isso que muitas vezes para nós leigos da a impressão que aquela criança fica anos dentro de uma casa, quando isso acontece é que alguém da família manifestou o desejo de ficar com a mesma e esse processo é bem demorado.

C.A. E nos casos onde a criança não se adapta ao novo lar, o que acontece?
C.T. Quem atua nesse caso é a equipe técnica dos abrigos, mas pode ser que a criança não se adapte, assim como a família pode não se adaptar a criança. Só que antes da criança ser entregue, ela vai passar um final de semana, o natal, no período de aproximação e adaptação da criança com a família. E depois, pelo menos aqui no município de Passo Fundo, há muito cuidado para que antes de a criança ficar definitivamente com a família, nossa equipe realiza vários estudos com aquela família. Muitas vezes a família age no impulso, ela quer muito uma criança, só que a gente tem a experiência que cuidar de uma criança, educar, suprir todas as necessidades não é fácil. Então, chega aquela criança naquele lar já constituído, já pronta. A adaptação é difícil, mas não tendo a adaptação tem aquele período onde aquela criança volta para o abrigo. Porém, aqui em Passo Fundo, não há registro da não adaptação, por que sempre há critérios bem rigorosos e trabalhos com psicólogos que atendem a família toda para receber bem aquela criança. 

*Acadêmica do VII nível de Jornalismo

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