sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Adriana Gehlen: a Drix, escritora e blogueira

Kaira Monteiro dos Santos*

Retrô é um estilo velho ou desatualizado da cultura, uma tendência, um hábito ou uma moda de um passado pós-moderno global que com o tempo vem à tona, se tornando funcionais a norma e a moda por mais uma vez. É um estilo, que pode negar a separação entre passado, presente e futuro, onde os estilos se imitam, por tendência psicológica, ou pela necessidade da homogeneização. Esse estilo é saudosista e romântico e com certeza valoriza o passado, não significando que seus criadores estão presos ao passado, mas observando o mesmo como a parte bela e gloriosa da vida. 
 
(Foto: Amanda SchArr)
Para comentar um pouco sobre esta escolha de estilo, entrevistei uma pessoa que considero um ícone de beleza, estilo e elegância, tanto no escrever, quanto no vestir, a colunista dos Armênios e blogueira Adriana Gehlen, a Drix, como é mais conhecida.


Com Arte - Porque a escolha da moda retrô?
Adriana Gehlen - Por pensar que outras décadas, na questão estilo, corte e música, foram de mais essência, poesia e elegância.

CA - Sempre gostou deste estilo?
AG - Não. Até os 16 anos eu era a adolescente jogando futebol e gostando de punk rock, quer dizer, ou eu era moleque, ou era a rebelde carregada de roupas pretas e acessórios. São fases. Depois fui ficando amena, com um olho na moda. A partir dos 19 anos fui mudando, musicalmente e em estilo, chegando aos 25 com um ar mais saudosista. Fui adotando de vez minha personalidade, preferindo o ameno, seguindo à risca a frase “menos é mais”.

CA - Como escolhe suas roupas?
AG - Sempre procurei o conforto, a partir dessa premissa procuro entrosar o retrô com o atual. Não gosto de malhas, te deixam vulgar e a maioria acaba denunciando imperfeição – que todos temos, mas que não é preciso sair exaltando por aí. Escolho cores sóbrias na hora das compras, o que acaba duplicando meu guarda-roupas em termos de opção pra compor uma peça com outra, até pelo fato de não comprar muito e definitivamente não ser a uma mulher consumista. Então, procuro comprar o certo e sem impulsos. Gosto dos cortes bem feitos e de saias, característica do universo retrô.

CA - Quais as influências na hora da escolha de suas roupas?
AG - O rock’n roll, o básico, o romantismo de décadas passadas. A Filomena, minha personagem, me influencia. Ela é leve, doce, misteriosa, menina e sensual ao mesmo tempo, e englobo tudo isso, com o costume de ver o que rola fora do Brasil.

CA - Por ser, de certa forma, um estilo romântico e saudosista, isso te influência na hora de escrever?
AG - Sempre! Até na hora de utilizar, muitas vezes, a máquina de escrever.

CA - Na pesquisa para esta matéria, li que o retrô é um tanto eclético. Concorda com essa afirmação?
AG - Concordo! Mistura passado com presente, usa-se pra sair em qualquer lugar, desde trabalho às festas. Mas penso que deva se usar o bom senso e, por exemplo, deixar as ombreiras de lado, hehe. O retrô, sendo a moda atual, como falei antes, é confeccionado para as necessidades atuais, hoje encontramos em muitos lugares. Se a pessoa for adepta dos brechós, acho que deve tomar cuidado pra não sair de lá cheirando à naftalina  - e etc - ou cortes que não condizem com o momento.

CA - Este estilo revive o passado ou apenas adéqua o passado a realidade através dos detalhes?
AG - Adéqua o passado para o agora. Moda muda, os cortes mudam. Hoje o retrô é adaptado as necessidades e familiaridades do século.

CA - Já usaste alguma roupa que tenha sido confeccionada em outra época, por exemplo, roupas de brechó?
AG - Já, mas não sou muito adepta. Compraria só se fossem cheirosas. O que muitas vezes, não é o caso. Evito ir, pois sinto um ‘peso’ vindo delas. É toda uma história que as peças carregam. Prefiro comprar peças novas. (Para mim, a energia permanece na roupa, me sinto extremamente mal usando algo de outra pessoa, mesmo estando em bom estado).

CA - O estilo retrô foi pensado para uma outra época, mas de qualquer forma é também um estilo atual. Essa ambiguidade que encanta muitos que gostam desse estilo, também te encanta?
AG - Encanta muito. São anos de possibilidades. A brincadeira de conseguir trazer aquilo para o agora, sair bem vestido e ao mesmo tempo rolar um saudosismo de identificação é muito bom. Uma maneira de homenagear o bom gosto daquela ‘galera’.

CA - O retrô é um estilo que vive o presente e está eternamente ligado ao passado através de um gosto poético?
AG - Sim, ligado ao gosto poético e musical. Por exemplo: Funkeiros dificilmente vão querer se vestir como The Beatles. Eles (funk) criaram uma própria referência. Sem embasamento e bom gosto algum, claro, mas criaram. O novo é bom, mas em muitos casos é apelativo, vulgar e feio. Os grandes poetas, músicos e filósofos vivem ainda na nossa memória, na inspiração, então, nada mais digno do que exaltá-los no modo de vestir, no seu bom gosto. Me sinto um pouco parte daquilo quando uso e a moda SEMPRE vai ser baseada no que veio de décadas passadas. Não tem como deixar para trás. É um dos legados que ainda sustentam a parte agradável do mundo.


(Foto: Carol Prelelué)




*Kaira Monteiro dos Santos é aluna do  VII nível do Curso de Jornalismo da UPF.

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