sexta-feira, 24 de junho de 2011

Da barriga e do coração

Viviane Assunção*

Segundo reportagem do programa Globo Comunidade, o Brasil possui mais de 27 mil pretendentes à adoção. São cerca de 6 famílias por criança. Dados divulgados pela ONG Associazione Amici dei Bambini da Itália, dizem que 72% dos brasileiros preferem adotar uma criança branca. Destes, 67% desejam que o bebê tenha no máximo 6 meses, sendo que 99% efetivam a adoção de crianças com até 1 ano de idade. Em âmbitos internacionais, 48% dos estrangeiros aceitam crianças com até 4 anos e apenas 13% das pessoas se interessam por crianças com a pele clara.

Nesse quadro, Fátima Franzem é uma exceção. Depois de já haver tido dois filhos, um de seus familiares passava por problemas pessoais, situação agravada pela necessidade de criar um filho de quatro anos.  Fátima não pensou duas vezes e uniu o seu desejo de adotar uma criança com a possibilidade de prestar ajuda a sua família. Assim, com o consentimento dos pais biológicos da criança, Fátima e seu marido adotaram o menino Samuel. Confira um pouco da sua história.

ComArte: Você sempre teve o desejo de adotar uma criança?
Fátima Franzen: Sim, era um sonho que eu e meu marido tínhamos.

CA:  Você tem mais filhos? Quantos?
FF: Sim, tenho mais dois. A Josemara e o Paulo.

CA:  Como surgiu a ideia de adotar uma criança?
FF: Sempre pensamos em ter mais um filho, mas que não viesse da minha barriga, mas sim, do coração, pois sabemos que muitas crianças estão em orfanatos e não conseguem se adotas; e sabemos das dificuldades que muitas passam.

CA:  Ele é registrado como filho de vocês? Como foi o processo de adoção?
FF:  Sim ele e registrado como nosso filho legítimo. Tudo foi simples até demais. O juiz destitui o pátrio poder dos pais e nos deu ele como filho legítimo. O processo todo durou  cerca de oito meses.

CA: Quantas anos a criança tinha quando passou a morar na sua casa?
FF: O menino tinha quatro anos.

CA:  Fale um pouco sobre a adaptação do menino no novo lar.
FF: Aconteceu de uma forma muito natural. Quando nos damos por conta, em poucos dias,  ele já nos chamava de pai e de mãe. Nos também nos adaptamos a ele com muita naturalidade.

CA:  Como a família se adaptou?
FF: Foi muito natural, pois de certa forma ele já era da família.

CA: Houve algum problema em relação aos outros irmãos?
FF: Nos primeiros dias o Paulo (filho do meio) não aceitava muito bem toda essa ideia, mas com o tempo acabou aceitando e se adaptando.

CA: Como você se sentiu naquela época, e como se sente hoje em relação à adoção?
FF: Antigamente, eu me sentia muito insegura, com muito medo de errar na educação, na forma de amá-lo, de tratá-lo, etc... Hoje, isso não acontece mais, pois o tempo me fez ver que não é bem assim que as coisas acontecem. Os filhos são uns diferentes dos outros; cada um tem seu jeito de ser e de encarar a vida, de lidar com o seu dia a dia. Nós podemos orientá-los e mostrar-lhes o caminho, mas quem escolhe são eles, independentemente de serem adotivos ou não. No meu coração eu tenho uma coisa muito clara: Samuel é meu filho, igualzinho aos outros. Na grande maioria das vezes eu até esqueço que  ele não nasceu da minha barriga. Temos muitas desavenças e muitas vezes ele não aceita os meus conselhos e isso o torna igualzinho aos irmãos.

*Acadêmica do VII nível de Jornalismo Online

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