*Daniel Dalpizzolo, Fiorelo Neto e Mariana Mezzaroba, acadêmicos de Jornalismo, VII nível.
A afirmação é do professor do Curso de Engenharia Elétrica da UPF, Fernando Passold. Ele concedeu esta entrevista à Revista ComArte para esclarecer as dúvidas em relação à Robótica e a Robotização do mundo.
De acordo com Passold uma disciplina como robótica começa introduzindo o tema identificando os diferentes tipos de robôs existentes e, segue mostrando as diferentes aplicações (usos) para os robôs. Depois se aprofunda na parte matemática que compreende a modelagem cinemática de robôs manipuladores (por vezes dos robôs móveis) e, a parte matemática que fundamenta os algoritmos que controlam os movimentos do robô (das suas juntas, rodas, posicionamento de sensores, controle de pan, tilt e zoom (PTZ) de câmeras, etc).
Portanto, esta disciplina exige fundamentos teóricos da área de controle automático, por vezes, da área de estatística e para não deixar de mencionar, forte base matemática e física, já que se trabalha com cálculos de matrizes e modelagem dinâmica (prever velocidades das juntas do robô, ou posição final de um robô móvel). Como esta disciplina estuda bastante a forma de trabalhar com diferentes sensores, se pode dizer que um efeito “colateral” da mesma, é deixar o aluno mais preparado para atuar na área de sensoriamento remoto por exemplo.
1) O que a disciplina faz na prática?
FP: Desde 2006, a disciplina de “Introdução à engenharia Elétrica” do curso homônimo da UPF, apresenta de forma prática a atuação de um engenheiro eletricista na área de controle automático (metodologia conhecida como “hands-on-experience”). Os calouros que recém ingressam no curso de Engenharia Elétrica da UPF, trabalham durante metade do semestre com kits Lego MindStorm RCX. Cada kit possui um pequeno "cérebro", o bloco RCX, 2 sensores de toque, 2 motores (com redução interna) e 2 sensores de luz entre várias peças de plástico comuns de todos brinquedos Lego (plataformas, encaixes, engrenagens), o que permite montar pequenos robôs móveis capazes de reconhecer e acompanhar uma trilha dentro de uma determinada pista, contendo curvas e mesmo loops. Com estes kits também podem ser desenvolvidos não somente robôs móveis mas pequenas máquinas capazes de separar bolas por cores, por exemplo, como já se fez (seus sensores de luz permitem distinguir até 4 tons de cinza). Desta outra forma, trabalhos práticos nesta linha podem ser executados na forma de "encomendas específicas" como foi o caso do Robô Livro apresentando na XIII Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo, em 2009, ou algo em nível de simulação pode ser realizado por alunos interessados pela área.
2) Como foi feito o Livro- Robô da Jornada
FP: No caso do "livro-robô", a na época, a professora Tania Mariza Rösing sabendo que existia um grupo de robótica móvel na Engenharia Elétrica que já havia participado em três competições de robôs móveis realizadas pela UFRGS (e ganho duas delas), teve a ideia de criar o tal livro-robô. Uma equipe de marketing especificou o projeto e sua execução foi a cargo de um grupo de alunos e funcionários supervisionados por um restrito grupo de professores do curso de engenharia elétrica (os com formação na área).
3) No que a robótica pode ser útil para as pessoas?
FP: No Japão, robôs móveis no estilo humanóides estão sendo desenvolvidos com o objetivo de auxiliar pessoas com alguma limitação física. Estes robôs podem ser usados tanto para alimentar uma pessoa como para transladar objetos pesados dentro de uma casa ou apartamento. Também é bom lembrar que já estão disponíveis comercialmente ao público comum, pequenos robôs móveis aspiradores de pó e eles são completamente autônomos. Outros robôs já estão sendo usados na área médica para realizar cirurgias de precisão (por exemplo, no cérebro ou no olho) ou para auxiliar em tarefas de reabilitação de movimentos de braços, pernas, mãos, etc. (estes últimos se parecem com braços e pernas robotizados e funcionam de maneira mais semelhante a um robô manipulador que deve ter seus movimentos programados à priori). Existem também uns cinco portos marítimos no mundo que são completamente automatizados, como por exemplo, o porto marítimo de Brisbane na Austrália. Outros robôs são usados por bancos como o Bradesco para automatizar seu sistema de recuperação de discos de dados contendo históricos de transações mais recentes ou antigas. A Petrobrás já usa robôs para inspecionar de forma autônoma o estado corrosivo de oleodutos e tanques de derivados de petróleo. A UFSC já desenvolveu um robô para automatizar as tarefas de soldaduras (manutenção) das pás de turbinas de hidroelétricas (que exigem cuidados periódicos contra a corrosão e impactos físicos a que estão expostas). Outra universidade como a COPPE/RJ já desenvolveu um robô submarino para realizar inspeção de túneis subaquáticos de captação de água de hidroelétricas, de até cinco Km de comprimento como no caso da hidroelétrica de Macabu/RJ. E colônias de robôs já foram desenvolvidas para auxiliar em trabalhos de resgate de náufragos ou detecção de minas. Neste caso, um grupo de robôs que se assemelham a pequenos caiaques são capazes de cobrir por conta própria uma grande área do oceano para tentar detectar sobreviventes ou minas. Mesmo o mercado de bolsa de valores usa robôs para executar de forma automática e muito rápida, transações de compra e venda de ações, minimizando a necessidade de intervenção humana.
4) Qual o cenário atual desde ramo em Passo Fundo e na região?
FP: Somente nos últimos cinco anos que Passo Fundo e região têm iniciado investimentos mais fortes na área de automatização. Então, são poucos e isolados os casos de emprego de robôs. Os poucos que são adotados atualmente costumam se concentram no setor metal mecânico. Pode-se citar o caso da empresa Stara (em Não-Me-Toque) que atua no setor de maquinário agrícola e que a pouco menos de um ano usa um robô (coreano) para automatizar soldas MIG (eletrodo + arco elétrico) de forma a realizar a solda de certas peças com uma qualidade mínima e maior velocidade que se comparado ao que era realizado antes por operadores humanos. A Metalúrgica Corazza possui uma máquina de corte a laser bastante automatizada (quase um robô). Existem também a Metasa (localizada em Marau) que se dedica a fabricar estruturas metálicas que possui um sistema robotizado de corte. E existem aplicações isoladas na área de agricultura de precisão, como no caso de colheitadeiras da John Deere automatizadas que permitem inferir em tempo real o índice produtivo de cada m2 de uma lavoura ou até mesmo até controlar sua movimentação dentro da lavoura. Infelizmente, como os investimentos exigidos nesta área são elevados, sua adoção ainda tem sido muito restrita.
5) O que há de mais novo no ramo?
FP: Existe uma tendência pelo desenvolvimento de robôs humanóides para auxiliar pessoas portadoras de alguma limitação física a realizar simples tarefas domésticas. Certas universidades já desenvolveram colônias de robôs aéreos capazes de cobrir e realizar um levantamento topográfico, de forma totalmente automática (incluindo fotos, se desejado) de vastas extensões territoriais. O supermercado francês Carrefour já se mostrou interessado em uma colônia de robôs poderia ser desenvolvida especificamente para controlar o estoque interno de um supermercado, repondo de forma automática (observando a data de validade) as mercadorias dentro de suas gôndolas. A Grécia já testa colônias de robôs para auxiliar no combate a incêndios. As possibilidades são enormes, e por isto mesmo, o tema vem despertando bastante interesse.
6) Até onde o senhor acredita que a Robótica pode chegar?
FP: Nos últimos anos, novos materiais têm sido desenvolvidos, alguns com capacidade de memória, por exemplo, isto é, podem voltar a sua posição anterior depois de terem sido excitados por alguma corrente elétrica. Ou mais interessante e promissor ainda, estão sendo os novos materiais desenvolvidos fazendo uso de nanotecnologia, capazes de se organizarem em diferentes formas geométrica (diferentes cristais) e assim assumir diferentes configurações físicas e geométricas e ainda assim manterem certas propriedades de rigidez e elasticidade. Creio que dentro de cinco anos poderemos começar a ver o desenvolvimento de pequenas colônias de robôs com boa capacidade de processamento local (certa inteligência própria) e ainda com capacidade de se autoconfigurarem fisicamente. Por hora, nenhuma máquina tem sentimentos, capacidade criativa ou consciência de si própria como o ser humano. Senão também poderíamos começar a indagar se estariam surgindo às primeiras máquinas com "alma"?
*Fernando Passold |
*Possui graduação em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Santa Catarina (1989), mestrado em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Santa Catarina (1995) e doutorado em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Santa Catarina (2003) com a tese “Controle de Posição e Força de um Robô Manipulador”. É professor no Curso de Engenharia Elétrica da UPF desde 1995.
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