Por Fabíola Hauch e Fernanda Canofre
"Eu vejo que a questão do bullying existe de uma forma violenta e velada na escola…". No corredor vazio, a professora Anabel explicita o que o gravador não vai ouvir na conversa com cinco alunos do segundo ano do ensino médio da Escola Estadual Nicolau de Araújo Vergueiro (EENAV). Com uma expressão convicta, mas suavizada pela voz doce, Anabel afirma que o que a preocupa não são os alunos que enfrentam os professores, mas aqueles que calam intimidados pelo olhar dos que têm voz. O olhar dela, no entanto, se volta para os gestos e brincadeiras, que parecendo inofensivas na risada de toda a turma, dentro do silêncio de uma criança podem tomar proporções irreversíveis. A supervisora lembra então de casos trocados em conversas com outros colegas, em que ouviu a história do garoto que para fugir dos ecos da escola deu fim à própria vida.
O bullying está presente nas salas de aula tanto quanto o giz e o quadro negro, mesmo que os próprios alunos não saibam identificá-lo ou defini-lo. Nas histórias de todo o dia, todo mundo já riu em coro com a turma, conhece alguém que foi o tema das brincadeiras, ou quem sabe sentiu na pele os tais "olhares intimidadores". As histórias a seguir, contadas por Débora Laurentino, Mariane Gris, Alan da Luz, Jéssica Jaks e Lenara Padilha, adolescentes de 16, 17 e 18 anos, são apenas algumas delas.
É comum vocês verem situações onde algum aluno é assediado moralmente pelos colegas no dia a dia?
Alan – Ah, com certeza.
Jéssica – No nosso caso não tem alguém que peguem e falem mal. Mas ali na outra turma, tem um menino argentino que todo mundo fica agitando com ele. Até os dos outros turnos conhecem ele, e ficam falando dele.
Lenara – E assim, é ele passar e já falam uma piadinha.
Alan – Tipo, a galera leva muito ele na chacotada, sabe? Deve ser um cara gente boa, parece ser um cara culto, só que pela roupa dele, ele sofre preconceito.
Mariane – Mas é que também, se ele mudasse algumas atitudes dele...
Alan – Só que como ele já vem de uma cultura assim... Eu acho que isso não influencia muito no dia a dia dele. Ele não liga, ou não deve ligar. A verdadeira história é aquela "só cai na nossa, quando a gente não gosta" né... Ele não se interessa pelo que o pessoal está pensando. Creio eu né...
Jéssica – É, senão já teria mudado de colégio e tudo mais.
Alan – Pois é, porque é o dia inteiro. Ele passa e a galera é uma chacota.
m
Mas já chegaram a agredi-lo?
Todos – Nããão!
Jéssica – Agredir não, só de ficar falando.
Mariane – Só brincando.
Alan – Apelido sabe, não é um, vários. É bem triste às vezes. Daí o cara não pode se opor.
M
O bullying está presente nas salas de aula tanto quanto o giz e o quadro negro, mesmo que os próprios alunos não saibam identificá-lo ou defini-lo. Nas histórias de todo o dia, todo mundo já riu em coro com a turma, conhece alguém que foi o tema das brincadeiras, ou quem sabe sentiu na pele os tais "olhares intimidadores". As histórias a seguir, contadas por Débora Laurentino, Mariane Gris, Alan da Luz, Jéssica Jaks e Lenara Padilha, adolescentes de 16, 17 e 18 anos, são apenas algumas delas.
É comum vocês verem situações onde algum aluno é assediado moralmente pelos colegas no dia a dia?
Alan – Ah, com certeza.
Jéssica – No nosso caso não tem alguém que peguem e falem mal. Mas ali na outra turma, tem um menino argentino que todo mundo fica agitando com ele. Até os dos outros turnos conhecem ele, e ficam falando dele.
Lenara – E assim, é ele passar e já falam uma piadinha.
Alan – Tipo, a galera leva muito ele na chacotada, sabe? Deve ser um cara gente boa, parece ser um cara culto, só que pela roupa dele, ele sofre preconceito.
Mariane – Mas é que também, se ele mudasse algumas atitudes dele...
Alan – Só que como ele já vem de uma cultura assim... Eu acho que isso não influencia muito no dia a dia dele. Ele não liga, ou não deve ligar. A verdadeira história é aquela "só cai na nossa, quando a gente não gosta" né... Ele não se interessa pelo que o pessoal está pensando. Creio eu né...
Jéssica – É, senão já teria mudado de colégio e tudo mais.
Alan – Pois é, porque é o dia inteiro. Ele passa e a galera é uma chacota.
m
Mas já chegaram a agredi-lo?
Todos – Nããão!
Jéssica – Agredir não, só de ficar falando.
Mariane – Só brincando.
Alan – Apelido sabe, não é um, vários. É bem triste às vezes. Daí o cara não pode se opor.
M
Que tipo de apelidos?
Alan – Apelidaram ele até de Charles Chaplin.
Jéssica – Chamaram ele de Juanito já.
Alan – Eu não sei todos, sei só os básicos. Charles Chaplin... Do que mais que chamam ele? De louco.
Alguns de vocês disseram que já tinham ouvido falar de bullying, o que sabiam desse assunto antes?
Lenara – Esses dias saiu na RBS, eu acho... Eu vi, em uma escola que estavam fazendo um programa.
Débora – Eu vi numa escola que o piazinho, começaram a bater nele porque ele era afeminado...Daí ele se matou. Só deixou uma carta, pegou e se matou.
M
Alan – Apelidaram ele até de Charles Chaplin.
Jéssica – Chamaram ele de Juanito já.
Alan – Eu não sei todos, sei só os básicos. Charles Chaplin... Do que mais que chamam ele? De louco.
Alguns de vocês disseram que já tinham ouvido falar de bullying, o que sabiam desse assunto antes?
Lenara – Esses dias saiu na RBS, eu acho... Eu vi, em uma escola que estavam fazendo um programa.
Débora – Eu vi numa escola que o piazinho, começaram a bater nele porque ele era afeminado...Daí ele se matou. Só deixou uma carta, pegou e se matou.
M
Vocês já viram acontecer um episódio de agressão física com algum colega? Mesmo fora da escola?
Alan – O L., que era "achão", os piás pegaram...
Jéssica – Por quê?
Alan – Porque muitos pensam que ele é gay, que ele tem outra opção sexual, mas ele não é. Tanto que é um cara super gente boa, mas a galera começou nessas.
Jéssica – E se fosse? Não diz respeito a mais ninguém além dele.
Alan – Só que daí os piás pegaram e, não chegaram a bater muito, muito, mas agrediram ele. Ele saiu quieto.
M
Alan – O L., que era "achão", os piás pegaram...
Jéssica – Por quê?
Alan – Porque muitos pensam que ele é gay, que ele tem outra opção sexual, mas ele não é. Tanto que é um cara super gente boa, mas a galera começou nessas.
Jéssica – E se fosse? Não diz respeito a mais ninguém além dele.
Alan – Só que daí os piás pegaram e, não chegaram a bater muito, muito, mas agrediram ele. Ele saiu quieto.
M
Ele não reagiu?
Alan – Não reagiu. Estavam em mais, em uns quantos.
Mariane – Não tem o que fazer nessas horas né...
Alan – Não reagiu. Estavam em mais, em uns quantos.
Mariane – Não tem o que fazer nessas horas né...
M
Existe um grupo de alunos que agride todo mundo, ou que o pessoal tem medo de se meter com eles?
Débora – Ter, tem. Sempre tem.
Alan – Tem gente que chega no colégio depois, e se achando porque vem de uma vila. "Ah porque eu vim da vila eu sou o cara, sou poderoso aqui dentro e vou quebrar vocês a pau".
Existe um grupo de alunos que agride todo mundo, ou que o pessoal tem medo de se meter com eles?
Débora – Ter, tem. Sempre tem.
Alan – Tem gente que chega no colégio depois, e se achando porque vem de uma vila. "Ah porque eu vim da vila eu sou o cara, sou poderoso aqui dentro e vou quebrar vocês a pau".
M
E algum de vocês já se sentiu vítima de bullying?
Débora – Em toda sala de sala de aula sempre vai ter um que vai ser mais aloprado que os outros. Em qualquer sala de aula sempre tem um que não se envolve muito e às vezes alopram com ele... Podem nem falar pra ele, mas pelas costas sempre vai ter.
Jessica – Ou sempre tem aquele que tenta ajudar e acaba levando na cabeça...
M
E já teve algum colega que se incomodou e foi falar com a coordenação?
Alan – Na nossa sala a galera do fundo, acho que faz o bullying com duas colegas que sentam na frente. Elas se ligaram que era pra elas... Já falaram que não gostam, mas, mesmo assim, alguns continuam.
Jéssica – Tinha um colega nosso, que agora mudou de turno, e acho que ele tem problema mental, porque fica falando sozinho. Eu lendo o livro e o piá hã... hã...hã...
Lenara – É aquela pessoa que irrita. Ele até tinha amigos, mas nas horas que todo mundo prestava atenção, ele não ficava quieto, incomodava e atazanava.
E algum de vocês já se sentiu vítima de bullying?
Débora – Em toda sala de sala de aula sempre vai ter um que vai ser mais aloprado que os outros. Em qualquer sala de aula sempre tem um que não se envolve muito e às vezes alopram com ele... Podem nem falar pra ele, mas pelas costas sempre vai ter.
Jessica – Ou sempre tem aquele que tenta ajudar e acaba levando na cabeça...
M
E já teve algum colega que se incomodou e foi falar com a coordenação?
Alan – Na nossa sala a galera do fundo, acho que faz o bullying com duas colegas que sentam na frente. Elas se ligaram que era pra elas... Já falaram que não gostam, mas, mesmo assim, alguns continuam.
Jéssica – Tinha um colega nosso, que agora mudou de turno, e acho que ele tem problema mental, porque fica falando sozinho. Eu lendo o livro e o piá hã... hã...hã...
Lenara – É aquela pessoa que irrita. Ele até tinha amigos, mas nas horas que todo mundo prestava atenção, ele não ficava quieto, incomodava e atazanava.
M
O que um aluno que se sinta perseguido, ou oprimido, deve fazer?
Débora – Acho que tem que ficar na dele.
M
Vocês acham que o melhor caminho é falar com o professor, com os colegas...?
Jéssica – Eu acho.
Débora – Falar com professor piora.
Alan – Acho que o grupo tem que falar, porque é na conversa que a gente se entende né...
Jéssica – Porque se falar com professor eles vão dizer "ah tu foi falar com o professor", e daí arrumou para eles.
Mariane – Daí já vai para agressão, eu acho. E também o professor vai chegar lá na frente, e vai ficar de bocudo.
Débora – O melhor caminho é chegar para pessoa e falar: "olha meu, não gosto".
M
O que um aluno que se sinta perseguido, ou oprimido, deve fazer?
Débora – Acho que tem que ficar na dele.
M
Vocês acham que o melhor caminho é falar com o professor, com os colegas...?
Jéssica – Eu acho.
Débora – Falar com professor piora.
Alan – Acho que o grupo tem que falar, porque é na conversa que a gente se entende né...
Jéssica – Porque se falar com professor eles vão dizer "ah tu foi falar com o professor", e daí arrumou para eles.
Mariane – Daí já vai para agressão, eu acho. E também o professor vai chegar lá na frente, e vai ficar de bocudo.
Débora – O melhor caminho é chegar para pessoa e falar: "olha meu, não gosto".
M
O que vocês fariam se vocês se sentissem assim?
Lenara – No meu outro colégio tinha isso. Um grupo de gurias que não gostavam do outro, e quando eu entrei neste outro grupo, queriam me bater. Mas eu conversei, falei que não gostava disso, ficou por um tempo uma carranca uma com a outra, mas agora ela é minha vizinha e a gente se dá super bem. Débora – Eu, já cansaram de me apelidar de machorrinha, de sapatão, e não sei o que. Eu cheguei e falei na cara: "a minha opção é essa...". Tanto que agora eu tenho mais amizade que antes. Não to nem aí para o que vão falar e deixar de falar.
M
E vocês acham que, na maioria dos casos, o aluno tem "coragem" de denunciar, de procurar o professor?
Débora – Eu acho que se ele tem vontade de estudar até procura o professor, mas se ele é tão perseguido, o que ia fazer? Ia parar de estudar.
Alan – Eu acho que não. Todo mundo já foi perseguido por alguma coisa. Quando eu era piá eu era perseguido. Eu sou inquieto, hiperativo... Se eu for dar bola para tudo o que falam, vou matar cinqüenta por dia.
Mariane – Eu tinha um colega no outro colégio, que ninguém gostava dele porque ele era gordo. E além de gordo, era chato. Ele soltava as piadinhas mais sem graça, sabe.
De repente ele tentava se enturmar.
Mariane – Sei lá.
Débora – Como ele foi tachado de gordo e chato, nem deram chance.
Mariane – No começo ele era legal, mas depois ele ficando excluído. Mas acho que ele mesmo procurou aquilo. Falavam com ele, faziam grupo com ele, mas de tão insuportável que ele era, ninguém mais queria conversar com ele.
M
Lenara – No meu outro colégio tinha isso. Um grupo de gurias que não gostavam do outro, e quando eu entrei neste outro grupo, queriam me bater. Mas eu conversei, falei que não gostava disso, ficou por um tempo uma carranca uma com a outra, mas agora ela é minha vizinha e a gente se dá super bem. Débora – Eu, já cansaram de me apelidar de machorrinha, de sapatão, e não sei o que. Eu cheguei e falei na cara: "a minha opção é essa...". Tanto que agora eu tenho mais amizade que antes. Não to nem aí para o que vão falar e deixar de falar.
M
E vocês acham que, na maioria dos casos, o aluno tem "coragem" de denunciar, de procurar o professor?
Débora – Eu acho que se ele tem vontade de estudar até procura o professor, mas se ele é tão perseguido, o que ia fazer? Ia parar de estudar.
Alan – Eu acho que não. Todo mundo já foi perseguido por alguma coisa. Quando eu era piá eu era perseguido. Eu sou inquieto, hiperativo... Se eu for dar bola para tudo o que falam, vou matar cinqüenta por dia.
Mariane – Eu tinha um colega no outro colégio, que ninguém gostava dele porque ele era gordo. E além de gordo, era chato. Ele soltava as piadinhas mais sem graça, sabe.
De repente ele tentava se enturmar.
Mariane – Sei lá.
Débora – Como ele foi tachado de gordo e chato, nem deram chance.
Mariane – No começo ele era legal, mas depois ele ficando excluído. Mas acho que ele mesmo procurou aquilo. Falavam com ele, faziam grupo com ele, mas de tão insuportável que ele era, ninguém mais queria conversar com ele.
M
Vocês acham que os "valentões" precisam de plateia?
Alan – Com certeza, tinha um piá aqui, ano passado, que eu não vou falar o nome, e como ele tinha muitos amigos ninguém se metia com ele. Ele fazia piadinhas com os outros, mas ninguém se metia com ele.
Débora – Na nossa sala, como a turma é unida, um assim nem se cria.
Alan – Com certeza, tinha um piá aqui, ano passado, que eu não vou falar o nome, e como ele tinha muitos amigos ninguém se metia com ele. Ele fazia piadinhas com os outros, mas ninguém se metia com ele.
Débora – Na nossa sala, como a turma é unida, um assim nem se cria.
M
O bullying está sendo mais discutido agora por causa do personagem da novela das 8 (Zeca, de Caminho das Índias). Vocês acham que essa é uma realidade ou é coisa de ficção?
Mariane – Claro que existe, mas ele não está sozinho. Sempre vai ter outros junto com ele, então...
Jéssica – Aqui da escola, acho que não.
Mariane – Mas eu já ouvi dessas, de se juntar em dez, quinze e sair por aí...
Alan – No Fagundes, tem o F., um guri muito inteligente. Ele tem problema mental, provado já, tem problema de visão, caminha de um jeito diferente. E onde ele passa, tiram com ele, imitam ele. Mas acho que são pessoas ignorantes, porque dá pra ver que ele tem problema. E ele fica brabo...
M
Ele fala sobre isso?
Alan – Ele fala pra mãe dele. Quando a gente era menor, a mãe dele foi ao colégio e pediu para pararem. Só que a galera não sabia que ele tinha problema, e ele se julgava uma pessoa normal. Mas depois que ficaram sabendo, todo mundo foi pedir desculpa.
M
Os professores, não faziam nada?
Alan – Os professores não faziam nada.
Mariane – Os professores nunca fazem nada.
Jéssica – Nunca se metem.
M
Vocês acham importante discutir esse assunto?
Jéssica – Acho que sim, porque é assim que aparecem as pessoas que às vezes não se sentem bem e não falam.
Lenara – Com certeza. Até seria bom discutir isso em sala de aula.
Alan – Toda sala tem o excluído. Sempre tem. Daí ele poderia falar e a galera ia respeitar. Porque ninguém quer fazer para o outro o que não quer que façam com nós.
M
Mariane – Claro que existe, mas ele não está sozinho. Sempre vai ter outros junto com ele, então...
Jéssica – Aqui da escola, acho que não.
Mariane – Mas eu já ouvi dessas, de se juntar em dez, quinze e sair por aí...
Alan – No Fagundes, tem o F., um guri muito inteligente. Ele tem problema mental, provado já, tem problema de visão, caminha de um jeito diferente. E onde ele passa, tiram com ele, imitam ele. Mas acho que são pessoas ignorantes, porque dá pra ver que ele tem problema. E ele fica brabo...
M
Ele fala sobre isso?
Alan – Ele fala pra mãe dele. Quando a gente era menor, a mãe dele foi ao colégio e pediu para pararem. Só que a galera não sabia que ele tinha problema, e ele se julgava uma pessoa normal. Mas depois que ficaram sabendo, todo mundo foi pedir desculpa.
M
Os professores, não faziam nada?
Alan – Os professores não faziam nada.
Mariane – Os professores nunca fazem nada.
Jéssica – Nunca se metem.
M
Vocês acham importante discutir esse assunto?
Jéssica – Acho que sim, porque é assim que aparecem as pessoas que às vezes não se sentem bem e não falam.
Lenara – Com certeza. Até seria bom discutir isso em sala de aula.
Alan – Toda sala tem o excluído. Sempre tem. Daí ele poderia falar e a galera ia respeitar. Porque ninguém quer fazer para o outro o que não quer que façam com nós.
M
0 comentários:
Postar um comentário