domingo, 4 de dezembro de 2011

Novos moldes da literatura


*Tatiane Santi

Que as novas tecnologias vieram com toda a força e conquistaram um vasto espaço, todos já sabem. Além de estar presentes no cotidiano das pessoas, elas têm transformado a maneira de se comunicar, interpretar, ler, ver o mundo. Mas, com esse rápido avanço, como fica a literatura em meio a tanta tecnologia?

É tentando encontrar uma resposta para esta pergunta, que buscamos, através de outros questionamentos, uma visão de quem está constantemente junto à literatura e as transformações que nela acontecem. Douglas Pereto, professor de Literatura, responde à ComArte:


ComArte: Como utilizar as novas tecnologias na educação das crianças?

Douglas Pereto: Gradualmente, tanto na relação com a idade, como com o conteúdo e o cotidiano. Tudo o que é demais enjoa. É necessário familiarizar a criança com os recursos, ensinar a pesquisar, peneirar os sites, o tipo de informação. Depois, partir para as diferentes plataformas: celular, PC, notebook, netbook, tablet... 

ComArte: No ambiente de ensino, é possível o espaço do livro impresso ser substituído pelo livro eletrônico? 

Douglas Pereto: Não. A convivência será harmoniosa. Ficará a cargo do leitor decidir a plataforma virtual ou tradicional que ele gostará mais de utilizar. 

Foto: Dieisson Zambillo
ComArte: O que você pensa dos professores de Língua Portuguesa que, mesmo sabendo da existência dessa nova linguagem, têm uma antipatia gratuita com relação a ela e difundem isso entre os colegas? Essa linguagem criada pelos jovens pode ser considerada um neologismo?

Douglas Pereto: É fato que essa nova linguagem é um neologismo e, como tal sempre causará estranhesa. O novo sempre causa estranhesa. Depois, vai-se fixando no cotidiano vocabular ou desaparece. No entanto, dificilmente passa para a norma geral, vide a recente reforma ortográfica em curso.

ComArte: Embora seja válido considerar e valorizar a linguagem usada na Internet, você acha que o professor deve aceitá-la em trabalhos e provas? Não seria melhor explicar aos alunos que cada linguagem tem seu espaço e momento de uso?

Douglas Pereto: Não. De forma alguma deve ser aceita no ambiente escolar no momento da entrega de trabalhos ou redações, a não ser que seja um trabalho especifico, valendo-se dessa linguagem para contrapor diferentes linguagens. Não se trata de repudiar, mas de entender o ambiente e o momento adequados a cada ocasião. Exemplificando: não se imagina um TCC sendo entregue via MSN, com sua linguagem específica, como não se imagina uma convesa, entre amigos, via o mesmo msn,  valendo-se da norma culta. Discernimento, antes de tudo.

ComArte: Como motivar os alunos para a leitura de literatura?

Douglas Pereto: Buscando entender a época em questão no enredo e trazendo para a atualidade, comparando pontos de vista, ligando à música, aos demais textos, novelas, comportamentos, etc, fazendo da trama original um link para outras possibilidades de debate. O livro deve ser apenas uma desculpa pra debater o mundo.

Foto: Dieisson Zambillo


ComArte: De que modo as novas tecnologias influem na comunicação literária e na criação literária?

Douglas Pereto: Diretamente. Em um mundo conectado, a velocidade de informação - o que nem sempre significa conhecimento, acaba por permitir uma série cada vez mais diversa de possibilidades de discurso, oferecendo a tão propalada interação entre criador e leitor.







ComArte: Qual o papel dos leitores em relação à literatura na sociedade digital?

Douglas Pereto: Opinar, jogar nas redes sociais suas opiniões, seguirem histórias, ligarem narrativas aos seus interesses, buscar mais informações, criticar, elogiar, fazer a história ir além do enredo proposto.

ComArte: O que é que transforma a narrativa em algo próprio do meio eletrônico?

Douglas Pereto: A possibilidade e o desejo de querer interagir e saber realmente o que pensa o seu público, o qual, diga-se, não é mais segmentado, mas cada vez mais amplo, visto a inserção cada vez maior de faixas etárias e sociais na rede mundial. Mas é preciso ser breve, pois a leitura em meio eletrônico chega a beirar o frenético, em oposição ao momento de pausa de um livro tradicional.


*Tatiane Santi é acadêmica do VI semestre do curso de Jornalismo da UPF.

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