sábado, 23 de maio de 2009

a sustentabilidade passa pela mudança de hábitos

Zulmara Colussi

Ele é geógrafo e economiário estadual, mas gosta mesmo de ser chamado de ativista ecológico. Paulo Cornélio, 46 anos, tem 26 dedicados exclusivamente ao movimento ecológico. Na década de 80, ele e um grupo de amigos, criaram o Grupo Sentinela dos Pampas, hoje conhecido como Gesp. Cornélio é referência quando o assunto é Meio Ambiente. Nesta entrevista ele fala de sustentabilidade e afirma que o novo conceito vai além da questão biológica e hoje envolve aspectos econômicos, sociais, culturais e espirituais.

Ativista ecológico Paulo Cornélio

COMARTEO que é sustentabilidade e desde quando este conceito vem sendo debatido?

Paulo Cornélio – O conceito de sustentabilidade começou a ser pensado, sob a ótica do movimento ecológico, há mais de 20 anos. Antes da Eco 92, o movimento ecológico debatia o tema sob o ponto de vista biológico. Hoje, este conceito já mudou. A sustentabilidade representava usufruir dos recursos naturais de forma responsável e democrática garantindo a esta e às gerações futuras um meio ambiente sem degradação. Pensamos ainda que é possível, dentro de um processo de sustentação, haver perspectivas para gerações futuras para que elas tenham qualidade ambiental. Hoje, ainda conseguimos percorrer determinado local ou floresta. Ainda temos recursos hídricos de boa qualidade. Possuímos rios e riachos não poluídos e queremos que isso tudo se mantenha para que as novas gerações possam continuar usufruindo isso.


COMARTEQual é o novo conceito de sustentabilidade

Paulo Cornélio - O movimento ecológico redefiniu este conceito, ultrapassando a lógica do biológico. Hoje, não se fala mais em sustentabilidade sem antes envolver aspectos sociais, culturais, econômicos e espirituais. Esta é a definição mais atual do movimento. A interligação de todos esses aspectos da vida do homem tem que ser vistos como elementos fundamentais dentro do processo sustentável. Não existe desenvolvimento se não for desta forma. Um está ligado a outro. Queremos que todos tenham qualidade de vida dentro desta ótica.

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COMARTE – E por que há necessidade de interligar esses aspectos?

Paulo Cornélio – Uma pessoa com baixo poder aquisitivo (econômico) tem sua vida afetada nos aspectos culturais, sociais e espirituais. Ela não tem a qualidade de vida que merece se não tiver estes elementos harmonizados. Como ela vai se inserir socialmente ou culturalmente se não tem condições para isso?

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COMARTE – O movimento ecológico sempre foi acusado de impedir o desenvolvimento, por ações contra empreendimentos. Como você analisa essa crítica?

Paulo Cornélio – O movimento ecológico é mal interpretado. Todas as nossas ações não são para impedir o desenvolvimento, mas para garantir nossos recursos naturais. Em Passo Fundo, por exemplo, tivemos o caso do autódromo, onde fomos muito criticados. Não somos contra a construção de um autódromo. Ele pode ser construído, desde que não em áreas onde estão as principais nascentes da região, como próximo ao Parque Wolmar Salton. Hoje, já temos exemplos em que é possível o desenvolvimento industrial em harmonia com a preservação ambiental. Por que a Ambev, a Italac e outras empresas vieram se instalar em Passo Fundo? Por causa da qualidade da água. E só temos água com qualidade porque o movimento ecológico luta pela preservação dos mananciais.

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COMARTE – Como o agricultor pode se inserir na sustetabilidade?

Paulo Cornélio – Só através da agroecologia. Esta é a saída: agricultura ecológica ou biodinâmica. Isso pode fazer com que o agricultor não deixe sua terra, usufruindo do ecossistema existente. O agricultor deve trabalhar o consórcio de culturas com os ecossistemas. E deve receber incentivos fiscais para isso. Por exemplo, se ele tiver 30 hectares de floresta deve ser beneficiado com o ICMS ecológico: polui menos, paga menos. Sabemos que o apelo econômico é forte em função da monocultura, mas instituições como Embrapa e Emater já estão mudando essa ótica. Existe possibilidade de produzir sem agredir o meio ambiente. Só que da maneira convencional, não acreditamos.

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COMARTE – E como o homem urbano pode contribuir para um mundo sustentável?

Paulo Cornélio – Mudando hábitos. Prestar atenção para tudo o que estamos adquirindo. Será que precisamos ter um, dois, três carros, casas amplas que consomem energia? Precisamos de três televisores em casa? Temos que ter consciência que não podemos nos espelhar no modelo de consumo dos americanos. É inviável para o Planeta. Vamos supor que todos os brasileiros tivessem acesso ao consumo. Não existiriam recursos para isso.

Há necessidade de mudança de hábito. Podemos começar essa mudança pela seleção do lixo, que é um processo educacional. No momento que você começa a separar o lixo da sua casa, você começa a observar que não precisa de tantas coisas. Nós entendemos também que para nos inserir num modelo sustentável é necessário baixar o custo de muitas coisas, como a energia alternativa, o reuso da água, etc. Esse aspecto, no entanto, passa por políticas públicas.

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COMARTE – Você acha que estas mudanças são possíveis em pouco tempo?

Paulo Cornélio - Não somos ingênuos e sabemos que não será da noite para o dia. Precisamos ter educação ecológica permanente e conhecimento tecnológico para dar acesso à população, barateando custo do aquecimento solar, que hoje custa entre R$ 7 à R$ 8 mil, e do reuso da água, que pode aumentar em R$ 4 mil um projeto residencial de R$ 100 mil.



1 comentários:

Anônimo disse...

Parabens Paulo Cornelio pela iniciativa e a vontade de mostrar a todos o que somos capazes de reduzir a poluição, energia, desmatamento, entre outras para que o mundo respire o ar mais puro.
A luta continua!!!