Guilherme Cruz
Existem pessoas que sofrem com as fobias mais diversas e bizarras. Medo de botões, de ralos, de cabelos, de anões... Como as possibilidades da imaginação, a lista é interminável. Aliás, realidade e imaginário são pontos importantes quando se fala em fobia, talvez por isso a idéia do cineasta Kiko Goiffman. Ele idealizou o FilmeFobia, lançado este mês, que usa ficção para buscar o real e realidade para retratar a ficção. Confuso? O filme se constrói como o making of de um documentário fictício no qual o diretor acredita que a única imagem verdadeira e convincente é a do homem em contato com sua própria fobia. Mas essa conversa fica para a outra entrevista com Kiko Goiffman, publicada aqui no blog durante o decorrer da semana. Enquanto isso você pode aguçar sua curiosidade dando uma olhado no site do filme.
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Agora, para explicar um pouco sobre os processos da mente em relação às fobias, a psicóloga Eliana Sardi Bortolon conversou com a gente. Formada na UPF em 2000, ela já trabalhou em diversas universidades da região, hoje atende em seu consultório, é coordenadora geral da Secretaria Municipal de Desporto e Cultura de Passo Fundo e mãe da Ana Clara.
O que você poderia diagnosticar como desencadeador de uma fobia? E de onde surgem esses sintomas?
Se pensarmos fobia como medo de uma coisa, ela pode acontecer pelos mais diversos motivos, não necessariamente um trauma. Ela pode ser uma coisa que parece pequena que aconteceu com a gente, e a pessoa não conseguiu entender, processar, e isso acaba desencadeando uma doença/fobia muito grande.
Numa visão geral, o fato de enfrentar o objeto da fobia diminui ou aumenta o medo?
Respeitando as individualidades, eu posso dizer que não resolve. A pessoa que tem medo de elevador, ela pode começar a andar de elevador, mas vai começar a ter medo de cachorro, por exemplo. O objeto nem sempre é, e geralmente não é, uma escolha consciente, mas que o inconsciente faz para poder resolver determinado problema. Enfrentar pode acarretar a resolução daquele objeto específico, mas essa angústia, esse medo vai continuar com a pessoa em outro objeto.
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Se a gente for entender o mecanismo da fobia, ele é muito mais complexo do que parece, por exemplo, uma vez fiquei presa no elevador e por isso tenho medo. Isso é um medo, é uma coisa que todo mundo passa, é diferente de uma fobia que é uma doença instalada que impede a pessoa de ter uma vida social as vezes. É preciso diferenciar os níveis de medo, eu ficar presa num elevador é diferente de eu não conseguir entrar num elevador – em hipótese nenhuma.
No momento você consegue analisar se as pessoas estão mais propensas a fobias?
Sim. Uma, atualmente conseguimos diagnosticar mais doenças e isso aparenta ter mais fobias . Devido a mais recursos e tratamentos, para que a pessoas possam buscar ajudar. Mas por outro lado, a gente fala cada vez menos fala sobre o que sentimos. A gente ensina crianças a não fazer isso, na escola não se fala, e no mundo de hoje precisamos trabalhar, e quanto menos falar e sentir melhor. Sem contar da realidade social que amedronta todo mundo, uma realidade de crise, violência e de desemprego.
O que você considera, se o Real ou Imaginário pode suscitar uma fobia?
Eu acredito no inconsciente, claro que é a partir de uma vivência real, não necessariamente a pessoa tenha que ter passado por um tiroteio para adquirir determinado trauma. Às vezes é uma situação de trauma, que eu olhando de fora parece ridículo, na verdade é o que cada um processa de dentro o que vive na realidade.
Você possui alguma fobia?
EU?! Fobia não, fico com o pé atrás com algumas coisas, mas acho que consigo tolerar elas para poder viver com essas incertezas.
E a maternidade te trouxe novos medos, houve um aumento devido a relação com a sua filha?
Não aumento, a maternidade me fez pensar que sou capaz de resolver as coisas. Em nenhum momento penso que não vou conseguir fazer. É uma constatação, ser mãe me mostra ações, e faço alguma coisa certo ou errado, mas faço.
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